domingo, 18 de fevereiro de 2007

Rubens Recupero: Que diferença faz o Brasil

Neste domingo de carnaval, vale à pena destacar a coluna de hoje (só para assinantes), na Folha de São Paulo, de Rubens Recupero, ex-secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ex-ministro da Fazenda:

" A razão pela qual o Brasil é incontornável na solução do aquecimento global é a mesma que opera na agricultura: a extraordinária riqueza em recursos naturais que faria dele uma potência ambiental, se existisse tal conceito. O país controla (?) a maior floresta tropical e é abençoado com uma das mais amplas reservas de água doce. Sua biodiversidade confirma a intuição do hino: de fato, "nossos bosques têm mais vida".
A agenda mundial foi distorcida pelo terrorismo, o Iraque, a proliferação de armas, o Irã, o conflito israelense-palestino. A esse respeito, pouco ou nada podemos fazer, pois carecemos de poder militar e econômico, e nossa influência no Oriente Médio é próxima de zero.
Esses problemas são reais, mas alguns foram inflados ou criados por estratégia errada (a desnecessária invasão do Iraque, por exemplo). Para a imensa maioria da humanidade pobre e sofredora na África, na Ásia e na América Latina, sua relevância é quase nula.
Já a mudança climática afeta a todos: é a mãe de todas as ameaças. Até a desonestidade de governo dominado por lobbies petrolíferos como o de Bush começa a ceder e, em dois ou três anos, é provável que os EUA se resignem a limites de emissão obrigatórios. A partir de agora, o destino do planeta vai depender de uma agenda ambiental na qual o Brasil faz diferença.
O problema é que, salvo momentos brilhantes como o da Rio 92, volta e meia recaímos em posição defensiva. A fim de ganhar em matéria ambiental a influência que exerce na negociação agrícola, o país tem de seguir o mesmo caminho da agricultura: converter em uma oportunidade o que hoje é um problema.
Não basta culpar os industrializados. É preciso criar coalizão de peso como o Grupo dos 20, pôr na mesa propostas sérias, exigir contribuição dos outros, mas também de si próprio. No mínimo, comprometendo-se a não agravar a situação com as queimadas na Amazônia e a destruição da biodiversidade.
Se, nessas e outras áreas da política ambiental, tivesse o Brasil a excelência que alcançou nos biocombustíveis, encarnaria para um mundo sob ameaça mortal muito mais do que a potência militar dos EUA ou o crescimento predatório do tipo chinês: o exemplo moral de que é possível salvar a Terra respeitando a santidade da vida."

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