terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Editorial Science: Comércio de Carbono

por William H. Schlesinger, coordenador da “Nicholas School of the Environment and Earth Sciences”, Duke University, Durham, NC.

Dissemina-se entusiasmo sobre os sistemas de comércio de emissão (cap-and-trade) para regular a quantidade de CO2 emitida para a atmosfera terrestre. Em 1990, a Agência Ameriana de Proteção Ambiental impôs um limite sobre as emissões de SO2 de fontes pontuais e permitiu àqueles que emitissem menos que sua cota comecializar suas permissões excedentes. Como resultado, a deposição ácida regional foi dramaticamente reduzida. Poderia o mundo fazer o mesmo para o CO2?

Diferenças fundamentais na biogeoquímica do SO2 e CO2 sugerem que o estabelecimento de um sistema completo, baseado no mercado para o comércio de emissões de CO2 seja difícil. Para o SO2, as fontes pontuais antropogênicas (em grande parte das usinas de energia à carvão), as quais são relativamente fáceis de controlar, dominam as emissões para a atmosfera. Fontes naturais, como as emanações vulcânicas, são comparativamente pequenas, então as reduções da componente antropogênica podem potencialmente ter um grande impacto, e reações químicas asseguram um curto tempo de vida do SO2 na atmosfera. O CO2, em contraste, surge de muita fontes distribuídas, algumas sensíveis ao clima, outras sensíveis à ação humana como a derrubada de florestas. Torna-se assim impossível controlar todas as fontes potenciais.

Emissões humanas pela queima de combustíveis fósseis representam uma das menores componentes do fluxo de CO2 atmosférico, o qual é dominado por florestas e pelos oceanos. Durante a maior parte dos últimos 10 mil anos, o sequestro e a perda de CO2 pelas florestas e oceanos certamente estavam muito próximo de um equilíbrio, pois o CO2 atmosférico mostrou pequena variação até o início da Revolução Industrial. O CO2 derivado da queima de carvão, oleo e gás natural agora surge de muitos segmentos da sociedade, incluindo a geração de energia elétrica, indústrias, aquecimento residencial e transportes. Desbalanceada por sumidouros equivalentes de CO2 antropogênicos, as emissões de combustíveis fósseis são responsáveis pela vasta maioria do crescimento do CO2 na atmosfera terrestre. Limites sobre emissões, como as instituídas para o SO2, serão difícies de serem instituídas se a conta de reduzir as emissões de CO2 deve ser aceita igualmente por todos os emissores.

Devido à remoção de CO2 através da fotossíntese e do armazenamento de carbono na biomassa, florestas e solos parecem ser atrativos para se estocar CO2. Esquemas baseados em mercado propõem pagamentos e créditos substanciais para aqueles que atingirem um saldo positivo de estocagem em manejo florestal e agricultura, mas esses ganhos projetados são freqüentemente pequenos e dispersos sobre grandes áreas. Precisaremos tornar positiva qualquer remoção de carbono contra o que deveria ocorrier na ausência de uma política climática. Por outro lado, serão Canadá e Rússia taxados por liberações progressivas de CO2 que derivam do aquecimento de solos do hemisfério norte como resultado do aquecimento global induzido pelo uso de combustíveis fósseis em todo o mundo?

Se serão fornecidos créditos para aqueles que escolherem não cortarem suas florestas existentes, a crescente demanda total por produtos florestais irá deslocar o desflorestamento para outras áreas. Frequëntes auditorias serão necessárias para se determinar a remoção de carbono atual, seguros serão necessários para proteger creditos de carbono passados de possíveis destruições por fogo ou tempestades de vento, e pagamentos serão necessários caso as florestas forem cortadas. Todos esses esforços serão muito caros para admnistrar, diminuindo o valor dos relativamente modestos creditos de carbono oriundos do manejo florestal e da agricultura.

Muitos economistas de meio ambiente reconhecem que uma taxa ou tarifa sobre a emissão de CO2 de fontes de combustíveis fósseis seria o sistema mais eficiente para reduzir as emissões e distribuir a conta igualmente entre todas as fontes: industriais e pessoais. Uma taxa sobre as emissões de carbono oriundo de combustíveis fósseis poderia substituir a receita equivalente das taxas sobre lucros, de modo que a conta total da taxa dos consumidores permaneça inalterada. Uma elevada taxa sobre a gasolina deve preservar o direito pessoal de dirigir uma carro maior ou dirigir longas distâncias, mas pode também motivar decisões de se fazer o oposto. Uma taxa sobre as emissões oriundas de termoelétricas movidas à carvão, manifestada em contas de fatura de energia elétrica mensais, deveria motivar o uso de energias alternativas e eficiências do uso de energia em casa e na indústria.

A biogeoquímica do carbono sugere que ambos programas de taxas e de comércio de emissões devem funcionar melhor se restritos para as fontes de carbono de combustíveis fósseis. Outras fontes e sumidouros no ciclo biogeoquímico global são simplesmente muito numerosos e usualmente muito pequenos para incluir em um sistema eficiente de comércio. Simples, justa e efetiva deve ser a marca das políticas que irão nos desmamar da dieta rica em carbono da Revolução Industrial, e devemos começar logo se temos alguma esperança em estabilizar nosso clima.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu