O grande problema com a maior parte das discussões sobre tendências na atividade dos furacões é que os conjuntos de dados que todos estão utilizando são conhecidos por não serem homogêneos devido a mudanças nos procedimentos de observação e na tecnologia ao longo dos anos. Assim, não é surpreendente que uma nova re-análise (Kossin et al, publicado em 28/02/2007) gerou um significativo interesse e controvérsia no seio da comunidade de pesquisadores de furacões (veja, por exemplo, Prometheus ou Chris Mooney). No entanto, ao invés de tomar este estudo por aquilo que ele é – uma tentativa preliminar e útil de tornar homogênea uma parte dos dados (1983 a 2005) – ele está sendo tratado como se fosse a última e definitiva palavra sobre o assunto. Nós freqüentemente afirmamos que trabalhos isolados não são em geral os grandes avanços (“breakthroughs”) sugeridos pela imprensa ou pelos sítios de comentários, e este caso é um bom exemplo.
Kossin et al desenvolvem um algoritmo baseado em dados do Atlântico Norte que podem teoricamente ser utilizados com os dados de menor resolução do início das séries históricas e de regiões mais remotas. Enquanto esta técnica funciona bem no Atlântico Norte (detectando quase todas as tempestades observadas no dado padrão), ela não funciona tão bem em outras regiões – possivelmente porque as características dos ciclones tropicais não são universais, ou porque a resolução dos dados iniciais de sensoriamento remoto ainda é insuficiente. O pior desempenho em outras regiões é certamente uma razão para antecipar que mais trabalho será necessário para refinar estas estimativas, e deveria servir como um sinal de alerta para aqueles buscando conclusões definitivas.
Como esta pesquisa se encaixa com alguns dos trabalhos precedentes? Bem, ela confirma a forte tendência de aumento no Atlântico Norte (visto em Emanuel, 2005), mas não mostra tendências significativas em outras regiões (desde 1983). Este resultado não pode, entretanto, ser diretamente comparado com os de Webster et al (2005), uma vez que suas tendências começam nos anos 1970, e a brevidade da nova re-análise (somente 23 anos) enfatiza a variabilidade interanual e decadal associada ao El Niño, por exemplo. Então, é improvável que o estudo de Kossin et al venha a esclarecer muito sobre a ligação potencial entre aquecimento global e a intensidade dos furacões.
Em resumo, leia os trabalhos e comentários mas não acredite no oba-oba.
Fonte: RealClimate
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