Nos primórdios da indústria automobilística, Henry Ford planejou utilizar o etanol como combustível do seu Modelo T. Esta opção foi rapidamente suplantada pela oferta abundante e barata de gasolina, que contém 30% mais energia por litro que o etanol. Atualmente, devido às mudanças climáticas e às incertezas no fornecimento de petróleo, o etanol é a alternativa do momento.
Em sua edição de 16 de março de 2007, a revista Science publica um artigo dedicado ao tema do “etanol celulósico”. As pesquisas nesta área têm por objetivo converter toda forma de resíduos vegetais – palha de trigo, espigas ou aparas de madeira, por exemplo – em combustível. Estudos mostram que os EUA poderiam converter anualmente 1.3 bilhões de toneladas de biomassa seca em 227 bilhões de litros de etanol, o equivalente a 30% do seu consumo de combustíveis, tudo isto com pequeno impacto na produção de alimentos ou de madeira.
A grande vantagem do etanol celulósico é, sem dúvida, deixar para trás o debate “combustível versus comida”, uma vez que apenas resíduos agrícolas e florestais são empregados em sua produção. Sua eficiência na redução de gases de efeito estufa (GEE) é, também, outra característica notável. Enquanto um litro de etanol de milho reduz as emissões de GEE em apenas 18%, o etanol celulósico propicia um corte de até 88%.
Por outro lado, converter açúcar (como no Brasil) ou amido de milho (como nos EUA) em etanol é uma tarefa muito mais simples do que fazer o mesmo a partir de resíduos agrícolas ou florestais. Esta biomassa é feita de três ingredientes: celulose, um polímero da glicose (um açúcar com 6 carbonos) que é o componente principal da parede das células; hemicelulose, polímero ramificado de xilose e outros açúcares com 5 carbonos; e a lignina que une os outros polímeros numa estrutura robusta. Como quebrar esta estrutura de modo eficiente, disponibilizando seus açúcares para a produção de etanol, é um dos grandes desafios dos pesquisadores de biocombustíveis em todo mundo.
Para fazer isto os cientistas estão recorrendo, por exemplo, a técnicas sofisticadas de engenharia genética para modificar bactérias e/ou leveduras responsáveis pela fermentação com o objetivo de converter diretamente a xilose (e outros açúcares de 5 carbonos) em etanol, processo que não acontece na natureza.
Atualmente, não existem plantas comerciais de etanol celulósico mas espera-se que em breve (~5 anos) o seu custo de produção venha a cair abaixo de US$ 1.07 por galão, o que o tornaria competitivo com o etanol do milho. Esperamos apenas que o Brasil, que atualmente lidera a tecnologia do etanol convencional, não venha perder a corrida do etanol celulósico, por falta de investimentos públicos e privados em C&T.
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