quarta-feira, 14 de março de 2007

Ignacy Sachs: Brasil pode ser a primeira biocivilização da história

Vale a pena ler a entrevista do Ignacy Sachs ao Estadão. Ignacy Sachs é eco-sócio-economista; desde 1968 é professor da Escola dos Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris e co-diretor do seu Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo. Destacamos alguns trechos:

"O Brasil tem as melhores condições no mundo para tirar proveito desta saída gradual da civilização do petróleo. Tem tudo para construir o que eu chamaria de uma biocivilização, baseada no aproveitamento do trinômio: biodiversidade, biomassas e biotecnologias - esta última nas duas pontas do processo, para aumentar a produtividade da biomassa e para abrir cada vez mais o leque dos produtos dela derivados, como alimentos, rações para animais, bioenergia, adubos verdes, materiais para construção, matérias-primas industriais, insumos para química verde, fármacos e cosméticos. É um mundo que se abre.

Hoje o Brasil já tem vantagens comparativas naturais, pela sua dotação de recursos naturais, abundância de terras e clima tropical que favorece a produtividade primária da biomassa. Do ponto de vista de capacidade de potencializar as vantagens comparativas, o Brasil tem vários trunfos na mão: pesquisa e uma indústria de equipamentos de ponta para este tipo de unidade de produção. Falta definir uma estratégia que transforme esses trunfos num processo de desenvolvimento autêntico, baseado no tripé dos objetivos sociais.

Não se trata de multiplicar a riqueza. Trata-se de multiplicar a riqueza mudando drasticamente as formas da sua partilha. Um grande pensador do desenvolvimento francês, e que andou muito pelo Brasil e influenciou toda uma geração de brasileiros nos anos 1950, (Louis-Joseph) Lebre, dizia que o “desenvolvimento é a construção de uma civilização do ser na partilha eqüitativa do ter”. Olha, não conheço uma fórmula melhor. Nosso problema é como construir esta civilização aproveitando a chance que a bioenergia abre para um novo ciclo de desenvolvimento rural, rompendo com a idéia de que se deve reproduzir o que os outros fizeram."

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