domingo, 4 de março de 2007

Energia Nuclear: Um Retorno?

Devido ao impacto do uso de combustíveis fósseis no clima do planeta, no mundo todo a opção nuclear volta a ser considerada seriamente pelos governos. A Revista Desafios do Desenvolvimento, do IPEA, em seu número de janeiro de 2007, analisa as perspectivas do retorno das usinas nucleares como opção energética para o Brasil:

"Depois de passar algumas décadas no papel de vilã das fontes energéticas, a energia nuclear volta a ocupar espaço nas diretrizes dos projetos de diversificação da matriz de energia elétrica brasileira anunciados pelo governo federal. A proposta divulgada no Plano Decenal de Energia Elétrica (2006- 2015), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia (MME), prevê a possibilidade de funcionamento de Angra 3 em 2013, com a injeção de recursos, inicialmente, de 1, 8 bilhão de dólares. A usina, com capacidade de 1.350 MW, é uma pauta polêmica e tornou- se um grande problema de gestão para o país, desde 1975. A termonuclear já consumiu cerca de 750 milhões de dólares em equipamentos e, apesar de estar inativa, sua manutenção custa cerca de 20 milhões de dólares por ano.

A aprovação ou não da implementação de Angra 3 está sob análise do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), presidido pelo ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, e pode vir a sofrer alterações de prazos quanto à operação na nova versão do plano decenal (2007-2016), de acordo com a assessoria de imprensa da EPE. A palavra final caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva."

Um comentário:

Anônimo disse...

Lovelock: Energia nuclear é alternativa para o aquecimento

A atitude do Irã de remover os lacres do centro de pesquisas nucleares deixou o mundo em alerta. Mas, além potencialidades bélicas do enriquecimento de urânio, a energia nuclear tem se destacado também por ser uma das alternativas viáveis no combate ao aquecimento global.

Para o cientista britânico, James Lovelock, autor da teoria de Gaia (pela qual a Terra seria um sistema auto-regulador que trabalha para manter o equilíbrio e a vida no planeta), as mudanças climáticas já seriam irreversíveis: “Não podemos reverter o aquecimento global. Mesmo a interrupção de todas as emissões de CO2 não impediria a Terra de se tornar aquecida pela maior parte do século”, afirma.

Ele defende que a energia nuclear é mais segura das fontes enérgicas para se impedir o avanço do efeito estufa. “Ela está disponível, é a mais segura de todas as fontes de energia, deixa o menor rastro e tem suprimento de combustível para milhares de anos.”, avalia.

O cientista concorda que diferentes países terão soluções distintas para o problema, mas acredita que, no momento, usar energia nuclear é a saída mais acessível e realista para o aquecimento global. “Estados Unidos, China e Europa precisam cortar imediatamente 60% do combustível fóssil queimado para não termos conseqüências desastrosas”, adverte.

Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, a temperatura no planeta aumentará em média 3,5 graus até 2100. O cientista compara esses números com os da última era do gelo, que terminou há 12 mil anos e apresentou temperatura média de 3,5 graus menos que em 1900. “A mudança até 2100 será comparável àquela entre a era do gelo e 1900. A floresta amazônica não existia naquele tempo. E ela pode também não existir no fim deste século”.

A aceitação e os investimentos em energia nuclear têm aumentado em muitos países, principalmente na Ásia, que nunca se voltou contra ela da maneira como o Ocidente. A China possui nove reatores nucleares e pretende ter outros 30. Nova capacidade está sendo criada ou considerada na Índia, Japão, Taiwan e Coréia do Sul. A Rússia também está construindo várias usinas.

Os cientistas também estão dando apoio. Sir David King, principal cientista de Tony Blair, recentemente afirmou que uma nova geração de usinas nucleares é necessária (pelo menos no Reino Unido), para se ganhar tempo e manter em baixa as emissões de CO2, enquanto novas tecnologias não-nucleares e não emissoras de carbono são desenvolvidas.

A adoção da energia nuclear como uma alternativa viável para se reduzir o ritmo das mudanças climáticas tem sido defendida até por alguns ambientalistas, que a consideram a melhor maneira de reduzir as emissões de carbono.

Nos Estados Unidos, mesmo com hostilidade da administração Bush a ações para a redução do aquecimento global, existe uma tendência para se dar um maior ímpeto à energia nuclear.

Isso tem levado alguns “verdes” a adotarem uma postura de que é melhor uma revitalização nuclear do que não se fazer nada em relação às mudanças climáticas. Líderes de organizações ambientais respeitadas, como a Enviromental Defence e o World Resources Institute, emitiram sinais favoráveis à energia nuclear como parte de uma resposta ao aquecimento global.

Controvérsias - Grande parte dos ambientalistas, no entanto, ainda são completamente contrários ao desenvolvimento nuclear, defendendo investimentos em fontes de energias limpas, consideradas mais seguras.

Os opositores preferem apostar no uso de energias renováveis, como solar, biomassa, eólica, energia das ondas, entre outras. Também indicam o seqüestro de carbono, com o gás sendo armazenado em cavernas, em poços exauridos de petróleo ou no oceano como alternativas ao aumento da geração nuclear na luta contra o efeito estufa e para satisfazer as necessidades energéticas do mundo.

Lovelock admite que seria ótimo contar somente com as fontes alternativas de energia, mas diz que elas não satisfazem as necessidades. “Se houvesse 1 bilhão de pessoas no mundo, bastaria usar as energias solar, eólica, hidrelétrica e uma quantidade modesta vinda da queima de madeira. Mas já somos mais de 6 bilhões e a população continua aumentando”.

Entretanto, o cientista diz que vale a pena buscar a energia renovável e que ela dever ser utilizada, mas que ela só é capaz de suprir uma pequena proporção das necessidades energéticas do planeta. “Não temos tempo de desenvolver as fontes de energia renováveis suficientemente para substituir a queima de combustíveis fósseis”.

Para ele, a necessidade de energia nuclear deve ser considerada como uma terapia: necessária para curar o excesso de emissões de gases do efeito estufa, mesmo sem ser a solução ideal, pois pode levar a um mundo melhor onde ela não seja mais necessária.

“Se houvesse uma aceitação global da energia nuclear como nossa fonte principal de energia e se ela fosse suplementada pelo seqüestro de carbono e pelas energias renováveis, nós talvez tivéssemos uma chance de manter nossa civilização atual.”

Lixo atômico - Apesar de todas as vantagens que pode apresentar na luta contra o aquecimento global, a energia nuclear continua gerando incertezas principalmente quanto ao armazenamento dos resíduos radioativos, segurança dos reatores e disponibilidade de urânio no futuro próximo.

“Os geradores nucleares deixam 95% da energia fissionável no material combustível”, disse o porta-voz da organização ambientalista francesa Sortir du Nucléaire, Stéphane Lhomme.

“Esta enorme quantidade de lixo permanecerá radioativo por milhares de anos, representam um risco incalculável para a saúde e o meio ambiente, e ninguém ainda encontrou um lugar apropriado e uma forma segura de se desfazer dele”, disse Lhomme.

Já para Lovelock, isso não pode ser considerado um grande problema. Ele dá como exemplo o volume de lixo atômico de alto nível produzido pelas usinas nucleares do Reino Unido, em 50 anos de atividade, que equivale a 10 metros cúbicos. “É tamanho de uma casa pequena. Se colocado numa caixa de concreto, esse lixo seria totalmente seguro e a perda de calor ainda poderia ser aproveitada para aquecer minha casa”.

(Sabrina Domingos/ CarbonoBrasil)