quinta-feira, 22 de março de 2007

Philip M. Fearnside: Água de São Paulo Depende da Amazônia

Apesar deste blog ter como objetivo destacar os ‘últimos avanços’ científicos relacionados às mudanças climáticas, gostaríamos de destacar neste post um artigo publicado há quase três anos na revista Ciência Hoje (4 de abril de 2004), e que mereceu pouco ou nenhum destaque em nossa mídia.

Trata-se de um artigo do Philip M. Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, e um dos mais citados cientistas no mundo na área ambiental. Neste trabalho, ele alerta que o abastecimento de água nas cidades do Centro-sul do Brasil é, em certa medida, um “serviço” prestado pela floresta amazônica.

Destacamos os trechos a seguir:

"No início de novembro de 2003, os reservatórios que fornecem a água da cidade de São Paulo atingiram um nível mínimo: apenas 5% de sua capacidade. A água era racionada na maior metrópole brasileira e restavam poucos dias para o esgotamento das reservas. A cidade do Rio de Janeiro vivia situação parecida. O volume de água nos reservatórios que a abastecem correspondia a 14% da capacidade total e havia o risco de que secassem antes da estação chuvosa, em dezembro. Antes, em 2001, a escassez de água nos reservatórios das hidrelétricas de toda a porção não-amazônica do país fez com que os principais centros populacionais brasileiros sofressem grandes blecautes (os ‘apagões’) e levou a prolongado racionamento de eletricidade."

"Esses acontecimentos deveriam produzir uma consciência aguda da importância da água transportada por correntes de ar da Amazônia para o Centro-sul do Brasil. Infelizmente, essa consciência ainda não se materializou, e o modelo de desenvolvimento que o governo federal quer implantar na Amazônia (previsto no Plano Plurianual 2004-2007) baseia-se em uma série de obras de infra-estrutura (rodovias, hidrelétricas e outras) que levarão a perdas significativas de floresta."

"A questão do transporte de água da Amazônia para o Centro-sul do país ilustra claramente que manter grandes áreas de floresta amazônica é do maior interesse do país. É comum ouvir, no Brasil, a opinião de que existe uma conspiração permanente para enganar o país, fazendo com que este não desmate a Amazônia – essa renúncia beneficiaria outras partes do planeta, em detrimento dos interesses brasileiros. Manter a floresta amazônica de fato beneficiaria o resto do mundo, mas isso não altera o fato de que o maior prejudicado com a perda dos serviços ambientais da floresta amazônica é o próprio Brasil. A continuação do desmatamento reduziria, por exemplo, o potencial do país para obter ‘créditos de carbono’ através do Protocolo de Kyoto. É, portanto, do interesse do Brasil usar todos os mecanismos disponíveis para prevenir a perda de floresta na Amazônia"

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo, mas respondam o paradoxo. Os alertas são de que a Amazônia vai virar cerrado, mas o IPCCC projeta para este fim de século que os verões serão cada vez mais chuvosos no Sul do Brasil. Sem a Amazônia, de onde virá a umidade para garantir que o verão seja mais chuvoso do que nos dias atuais (quando temos a Amazônia) ? Alexandre.