terça-feira, 13 de março de 2007
José Goldemberg no Roda Viva da TV Cultura
O Físico Nuclear e Professor da USP José Goldemberg, um dos defensores da difusão das energias renováveis no Brasil foi o entrevistado do Roda Viva dessa semana (02-03-2007). Sua larga vivência acadêmica e política sobre as questões de energia e meio ambiente, o mantém numa posição bem clara sobre a energia nuclear: deve ser evitada. Para ele, James Lovelock, o criador da teoria de Gaia, que recentemente escreveu um livro que sugere a energia nuclear como única salvação para a questão das mudanças climáticas, não teria noção do tempo necessário para suprir a demanda crescente de energia no mundo. Segundo Goldemberg, levaria muito tempo para construir a quantidade requerida de usinas nucleares para atender a essa demanda. Além disso, os rejeitos radioativos são desde há algum tempo um grande problema nos Estados Unidos, detentores de 25% da energia nuclear no mundo. Para Goldemberg, a solução não seria nem o biodiesel, pois em seu processo de fabricação é utilizado metanol derivado de combustíveis fósseis. A melhor opção para o Brasil e para o mundo deveria ser o etanol derivado de cana-de-açucar e de celulose, pois trata-se de um combustível renovável, limpo e altamente produtivo em relação, por exemplo, ao etanol derivado de milho. E o Brasil tem grandes vantagens nesse mercado devido a sua experiência e pesquisas realizadas nas últimas décadas. Dois pontos entretanto ficaram mal esclarecidos. Um deles diz respeito ao suprimento de etanol no mercado interno. O Jornalista Washington Novaes, um dos entrevistadores, lembrou que no passado, com o aumento do preço do etanol no mercado externo, os produtores brasileiros exportaram quase toda sua produção de etanol, gerando um forte desabastecimento no mercado interno, levando as pessoas a substituir seus carros pelos movidos à gasolina. Certamente os produtores visam lucro e o governo deveria estabelecer regras sobre isso para que o desabastecimento não se repita, frente ao inevitável aumento da demanda externa. Outro ponto é que, segundo Goldemberg, a cana-de-açucar não teria boa vocação em terras amazônicas e ficou surpreso ao tomar conhecimento de que estava em tramitação a criação de uma usina de etanol no Acre. Frente a isso, será que teremos uma Amazônia 'doce' num futuro próximo? Aparentemente, o Brasil poderia ter uma aumento em sua taxa de crescimento não apenas pelo PAC mas em função das demandas externas de energia limpa. Mas se essa demanda implicar na devastação de ecossistemas e de seus serviços ambientais, tudo perde sentido. Além da manutenção da má distribuição de renda, o país se manteria na posição de celeiro do mundo desenvolvido, celeiro de energia. É preciso muita atenção.
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